Entender x ser mala: Por que a gente busca incansavelmente a descrição dos aromas do vinho? Nós, que trabalhamos e estudamos os vinhos, entendemos muuuito sobre eles só reconhecendo os aromas em taça. Origem, idade, método de produção… Os aromas são um raio x prévio do vinho. E sem falar nos defeitos né? Cheirar o vinho é algo também relacionado ao nosso instinto de defesa. Precisa fazer isso o tempo todo? Exceto para descartar problemas no vinho, o restante é para ser puro prazer e não uma competição. Não tem coisa mais chata do que gente que fica proclamando aromas no meio de um jantar de amigos querendo obrigar os demais a sentir o mesmo que ele.
Importância real: Como falei acima, sem dúvida a função mais relevante dos aromas é a de nos auxiliar nesta análise de possíveis defeitos e, claro, dar prazer. Mas há muitos trabalhos científicos mostrando que sua função vai muito além. Algumas pesquisas da American Psychological Association mostram que a percepção aromática está intimamente relacionada as nossas emoções. Aromas evocam lembranças, são fotografias sensoriais armazenadas em nosso cérebro, mesmo que a gente não consiga identificá-los imediatamente. Outros estudos têm mostrado também que nós usamos um pequeno percentual de nossa capacidade de armazenamento e que o constante estímulo à eles mantêm o cérebro jovem e ativo.
Criação de memória olfativa: Todo mundo sente igual? Não, definitivamente não. Questões genéticas, emocionais interferem muito. O COVID tem deixado sequelas em muita gente… Mas dá pra melhorar isso treinando, cheirando tudo, registando mentalmente. Tenho exemplo de alunos que são super restritivos a alimentos mas construíram memória olfativa com perfumes, por exemplo. O que não dá é pra pular essa etapa tão importante no mundo dos vinhos, que torna a experiência muito mais completa e prazeroso.
Sobre a foto: É uma nova gavetinha que abri esses dias, a flor de limoeiro. Acabei percebendo que o limão siciliano que descrevi muitas vezes é mais parecido com esse floral branco levemente cítrico. E suas gavetinhas? Como andam por aí?
Até a próxima taça, Keli Bergamo