Hoje participei do lançamento da Safra 2017 do vinho Garmón Continental, um dos grandes exemplares de tipicidade e elegância de Ribeira del Duero na Espanha.
A Garmón pertence aos mesmos donos da Bodegas Mauro – um dos vinhos que mais me impactou na região até hoje – e San Román. Cada uma possui vinhedos, estrutura enológica e equipe distintas, exatamente porque cada uma dessas produções possuem sua própria personalidade.
Garmón utilizada uvas Tempranillo exclusivamente provenientes de 5 zonas de vinhedos diferentes, todas de videiras muito antigas – de 30 a 100 anos – plantadas em vaso de e situadas entre 800 e 1.000 metros de altitude. Os vinhedos pertencem a parceiros da Bodega, com contratos específicos e segundo eles, muito rentáveis.
A diversidade de solos – dos argilo calcáricos aos mais arenosos, bem como de altitudes proporcionam diferentes perfis às uvas e isso, para Mariano Garcia, é o que impõe toda a autenticidade à Garmón.
Aliás, Mariano – com quem eu poderia ficar horas conversando e aprendendo – foi enólogo da emblemática Vega Sicília por décadas e conhece como poucos as múltiplas possibilidades da região.
Mariano ressaltou que os cultivos são biológicos – vinhas dessa idade possuem seu auto controle e independem de muitas intervenções, inclusive de podas – bem como há uma política de mínima intervenção e uso de leveduras autóctones, evitando assim que o vinho perca, mesmo que minimamente, toda essa história arraigada em tantos anos.
Passa por malolática e estágio – que variam de 16 a 20 meses conforme o ano – em barricas francesas novas de diversas tanoarias. Na safra 2017 foram exatos 16 meses.
A clarificação é feita apenas a frio e no decorrer dos 15 anos que estima de guarda ao vinho, é provável a formação de sedimentos.
Mariano, pensando de forma muito mais ampla diz não gostar de fcategorizar sua produção como “natural”. Fez questão de ressaltar que não é adepto do termo, acha pouco elucidativo. “Remoagem é natural? Controle de Temperatura é natural? Estágio é natural? “ Um mestre que vislumbra o vinho de forma simples e técnica, mas com a humildade que só os grandes possuem.
Sobre Ribeira, Mariano ainda comentou sobre a evolução da região pós Denominação de Origem, o crescimento desordenado em busca de atendimento à demanda na década de 90 e o retorno, a partir de 2004/2005, a esse olhar mais atento às potencialidades de cada área, bem como a plantios mais criteriosos.
Vale lembrar que Ribeira permite o corte com Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec, as quais não são usadas pela casa. Mariano contou ainda que sabe sobre experiências com a Garnacha na região, mas nada oficial sobre a possível admissão desta casta num futuro próximo.
Sobre o vinho: Pronto para beber, com taninos interessantes mas com amplo potencial de afinarem por mais um tempo. Mineralidade marcada e uma mescla de frutas maduras e levemente frescas. Nuances de especiarias doces e uma persistência impressionante. A safra 2017 está a venda na World Wine.
Até a próxima taça, Keli Bergamo