Lendas Urbanas do Vinho

por Keli Bergamo

 

Loira do banheiro, velho do saco, ladrões de rins…. Tudo isso é fichinha perto das lendas urbanas que rondam o mundo dos vinhos. Sei que você quer acreditar nelas, mas hoje vou te contar algumas verdades que podem te machucar… Ou apenas fazer você se sentir meio bobinho….

LENDA 1: Quanto mais profundo o fundo da garrafa, melhor o vinho: Essa é uma das mais engraçadas. Meu amigo William Máximo chama essas pessoas carinhosamente de “os tarados do vinho”. Chegam na loja e começam a apalpar os fundos em busca dos maiores para ai fazerem sua compras. O fundo não tem a ver com qualidade do vinho, mas sim com o designer da garrafa e uma forma de facilitar seu armazenamento. Lógico que um produtor que investe mais na produção do vinho costuma investir mais também em sua embalagem, com garrafas mais grossas (e que a vezes podem ter o fundo maior) mas isso não significa que o vinho será melhor e JAMAIS pode ser considerado um indicativo para isso.

LENDA 2: Vinho bom é vinho envelhecido: Exitem vinhos e vinhos. Antigamente a maioria dos rótulos de qualidade eram feitos para serem guardados. De uns 20 anos pra cá o mercado do vinho mudou muito e, assim como em outros ramos, as pessoas desejam consumir tudo “ontem”. Atentos a isso, os produtores passaram a produzir vinhos mais “prontos” para serem bebidos. Isso foi possível com mudanças em técnicas e também com criação de novas linhas de mercado. Os vinhos “prontos” ocupam a maioria de nossas prateleiras. Assim, não precisa comprar um vinho e ficar guardando pra quando casar, quando tiver filho, quando emagrecer…. Provavelmente ele não vai aguentar até lá… Deixe essa função para vinhos que realmente possuem capacidade de guarda como Barolos, grandes vinhos de Bordeaux e da Borgonha, etc….

LENDA 3: Vinho bom é vinho caro: Definitivamente não. Existem muitos vinhos em inúmeras faixas de preço e estilos diferentes. Fiz um post todinho sobre esse tema e você pode relembrar aqui.

LENDA 4: Vinho não estraga: Por mais que vinho tenham validade indeterminada, o bom armazenamento é essencial para mantê-los em boas condições. Degustá-lo em prazo adequado te fará aproveitar muito mais sua garrafa. E como disse acima, a maioria dos rótulos disponíveis foram elaborados para consumo em curto prazo. Se você deixá-lo em casa e exposto a condições ruins, vai tomar um baita de um vinagre. Abaixo vou explicar melhor sobre armazenamento. Aproveite e mande esse post para o amigo que deixa os vinhos nos nichos da cozinha desde 1.980.

LENDA 5: Assemblage não é bom: Sempre haverá alguém que dirá: “Eu não bebo vinho de uva misturada. Eles fazem isso porque as uvas são ruins”. Como eu sempre digo: Tem muito vinho pelo mundo e cada produtor, cada região, cada país, tem seu jeitinho de produzir. Em algumas regiões quase não existem vinhos varietais (feitos apenas com uma uva), mas sempre blends que vão desde os mais clássicos (como cabernet sauvignon e merlot na região de Bordeaux) até alguns muito loucos com dezenas de uvas como em Portugal. Além disso amiguinho, você PENSA que toma varietal, mas vários países autorizam falar que o vinho possui só uma uva desde que ela ocupe cerca de 70% da produção. Portanto, muito provavelmente o vinho que você achou que era de uma única uva (e por isso defendeu que era bom) tinha umas misturinhas com outras castas que o tornaram tão interessante. Viu como não dá pra ser xiita quando o assunto é vinho?

LENDA 6: Vinho doce não presta: Aqui é importante distinguir o vinho naturalmente doce do vinho com açúcar adicionado. Os vinhos naturalmente doces advém de técnicas de cultivo e vinificação muito próprias, geralmente longas e caras e originam vinhos incríveis. Possuem recomendações de harmonizações específicas com doces ou com queijos azuis e também são recomendados sozinhos. Entre eles estão os colheitas tardias, sauternes, tokajys, icewines… Falei um pouco sobre eles e uma experiência inesquecível de degustação aqui no blog. Já o vinhos com açúcar adicionado ou suaves são um pouco mais complicados. Ao contrário dos vinhos finos, cujo processo de fermentação é controlado onde se alcança o grau de dulçor desejado, nos “suaves” os vinhos são feitos de modo mais industrializado e com alteração do dulçor pela adição de açúcar branco (chaptalização), o que não é permitido na indústria de vinhos finos. Tire suas próprias conclusões…

LENDA 7: Vinho dá dor de cabeça: Quem nunca passou dos limites e colocou a culpa no vinho? Em grande quantidade ou com muitas adições o vinho pode sim dar dores de cabeça, mas isso não é a regra. Existem limites para adições de sulfito (que seriam os grandes vilões) aos vinhos e, se o vinho não tiver outras adições químicas, dificilmente fará mal. Vale lembrar que cada um tem uma resistência à bebida e que o consumo em excesso sempre fará mal, seja de vinho ou qualquer outra bebida.

LENDA 8: Não pode colocar gelo no vinho: Percebeu que vinho não é ciência exata? A gente vai testando e descobrindo. Claro que não dá pra pegar um baita vinho tinto cheio de aromas, envelhecido e colocar gelo, mas existem espumantes e vinhos próprios para isso. A técnica tem até nome: Piscine. Falei sobre esse tema aqui.

LENDA 9: Vinho de tampa de rosca não presta: Essa lenda “is so last week”. Deixe de preconceito e leia aqui.

LENDA 10: Adega é essencial: Há uns anos todos mundo queria comprar adega refrigerada e tivemos uma enxurrada de novas marcas em todas as lojas de móveis e especializadas. Passado esse estouro poucas ficaram e muita gente abriu mão por economia (algumas marcas consomem muuuuuuuuuuuita energia) ou porque elas não são totalmente imprescindíveis. E digo o porquê: Como comentei acima,  maioria dos nossos vinhos não são para grande guarda. Um armazenamento adequado, mesmo que não refrigerado, faz a vez. Eu mesma possuo uma adega pequena apenas para grandes vinhos (e não tenho muitos). Os demais ficam em um armário, longe da luz solar e com temperatura relativamente controlada. Expliquei um pouco sobre como armazenar vinhos nesse post aqui. Confiram.

Tem mais dúvidas? Já ouviu outras verdades absolutas por aí? Conte pra gente e falaremos a repeito.

To be continued…

Ps1. Texto originariamente publicado em Arquitetando Estilos.
Ps2: Cuca, te amo!

 

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