Adoro falar sobre temas que causam dúvidas recorrentes. No caso dos vinhos, ouço muita gente envolva em lendas (vejam nosso post sobre as Lendas Urbanas dos Vinhos aqui) e nos últimos tempos vejo muita gente falando: só tomo vinho DOC.
Oi??
Então… Cada época aparece uma onda diferente e com o aumento de informações – nem sempre confiáveis nas mídias não especializadas – as pessoas se confundem muito quanto aos termos relacionados aos vinhos.
Pois bem…Nem todo vinho que possui certificação de origem vai te agradar. Não é um selo que lhe proporcionará satisfação com o produto. Digo isso porque a certificação por DOC (Denominação de Origem Controlada), DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), DOP, AOC, DOCa e tantas outras que aparecem nos rótulos (conforme o país de sua origem) dizem respeito ao estilo, tipicidade e regras de produção. Saber que um vinho possui a selagem de um DOC/DOCG pressupõe que aquele vinho atende aos requisitos determinados pela associação de produtores da região para tanto, mas não te “obriga” a achá-lo especial só por isso.
Vou dar alguns exemplos de vinhos muito especiais e que assim nasceram mesmo sem certificação. Por coincidência ambos são de minha querida Itália.
O Sassicaia é um dos vinhos conhecidos como supertoscanos, um termo que determina vinhos tintos da região italiana da Toscana, produzidos com uvas ou cortes de uvas não típicas da região. Nasceu nos anos 50, quando o aristocrata toscano Mario Incisa della Rochetta trouxe mudas de cabernet de Chateau Latife, em Bordeaux e as plantou num vinhedo chamado Sassicaia, em sua propriedade chamada Tenuta San Guido, em Bolgueri.
Sempre foi considerado um grande vinho, aristocrático, majestoso, mas só ganhou o “selo” DOC em 1994. aliás, um DOC só para ele: Bolgheri Sassicaia. Antes disso sempre foi nobre, porém sem qualquer selo. Mudou algo? As regras apenas foram escritas.Ele nasceu grande e ainda o é!
Outro bom exemplo é do No Name, que ilustra nosso post também acima. Produzido na região do Piemonte onde se produzem os Barolos, vinhos incríveis com a uva Nebiollo, o No Name atendia a todos os requisitos para obter a classificação DOCG da região, mas foi recusado pelo Consorzio da região. O que fez o produtor? Continuou produzindo o mesmo vinho, seguindo as regras e com excelentes resultados, porém sem utilizar-se do nome Barolo, conforme determinado. Daí o rótulo curioso “sem nome” e com o registro de protesto escancarado logo abaixo.
Só pra constar: O No Name ficou incrível nessa harmonização com arroz de pato do Prosa Cozinha Secreta.
Viram como tudo é bem relativo quando se fala em vinho? Com DOC, DOCG ou o que for, o vinho tem uma garantia de procedência, mas jamais garantirá seu prazer se não for seu tipinho favorito. E como sempre digo: Você bebe rótulos ou vinhos??
Em um artigo sobre o No Name achei uma citação que adorei e transcrevo aqui para vocês:
“O que há em um nome?”, Gritou a bela Juliet da janela de Shakespeare, “Romeu e Julieta”. “Aquilo que chamamos de rosa por qualquer outro nome teria um cheiro tão doce.”
Até a próxima taça, Keli Bergamo.