Fui convidada pela Cantu Importadora para participar de um evento dedicado ao Mês das Mulheres com a presença de duas super personalidades do vinho: a uruguaia Fabiana Bracco e a argentina Susana Balbo.
Fabiana – uma amiga querida – contou a história de sua reinvenção pessoal para assumir a vinícola da família – BraccoBosca – quando do falecimento do pai e sua ideia de fazer vinhos jovens, “malucos” como ela mesma diz e em um perfil mais descontraído do que os clássicos uruguaios.
Logo que se deparou com a realidade da produção foi incentivada a arrancar algumas castas pouco valorizadas que seus avós e pais haviam plantado, mas algo – ligado a seu perfil cosmopolita – a fez crer que seria possível inovar respeitando a tradição. Manteve, por exemplo, os vinhedos de Moscatel de Hamburgo – primeira uva levada pelos jesuítas ao país – e que agora dá origem ao delicioso Umbu, vinho degustado esta manhã.
O Umbu tem uma cor de ouro rosa maravilhoso. Fabi explicou que, por mais que a maceração seja bem curta, a casca escura da Moscatel deixa eu rastro nessa tonalidade que se confunde entre um branco e um rosé. A fermentação ocorre em recipientes de cimento e o vinho é uma explosão aromática com toques de flores e lichia, que em boca abrem espaço para uma acidez vibrante e nuances de frutas como pêra e pêssego.
O rótulo, lindo lindo, traz um Umbú – árvore típica da região – de ponta cabeça com um gatinho preto. Invertido, o gato preto – que alguns acreditam trazer azar – vem representar a sorte.
O papo continuou com a presença sempre inspiradora de Susana Balbo!
Ela, que queria ser física nuclear, se tornou um dos maiores exemplos de mulheres neste meio.
Iniciou seus estudos em 1976, ano do golpe militar na Argentina e, ao sair de seus estudos, enfrentou empecilhos mil por sua idade e por ser mulher. Iniciou carreira em Salta e logo voltou a Mendoza, onde trabalhou por anos na Catena Zapata.
Susana ressalta que a paixão pelo vinho sempre a motivou a reagir às adversidades: “ Quando você gosta do que faz está disposto a qualquer coisa e isso te faz evoluir”.
No ano que completa 40 anos de carreira – ressaltando que foram 50 vindimas, posto que fez 10 delas também no Hemisfério Norte – gosta de relembrar do tempo em que, comandando a Wines of Argentina, lutou por um tratamento mais justo às pequenas vinícolas, a fim de que pudessem participar dessa associação sem serem prejudicadas pela alta contribuição exigida à época.
Também fez questão de pontuar sobre a necessidade de se tratar o vinho mais “natural” e menos interventivo com verdade, algo que concordo. Mais do que uma necessidade comercial, essas ideias devem ter um escopo ideológico e social verdadeiro.
Degustamos o Brioso – que em português significa Vivaz – e faz jus ao nome: Um corte de Agrelo com 54% de Cabernet Sauvignon, 22% de Malbec, 18% de Cabernet Franc e 6% de Petit Verdot com 15 meses de estágio em carvalho francês. Elegante agora e com alto potencial de envelhecimento. Um vinho que realmente demonstra a força e elegância que traduzem a assinatura dessa super mulher.
Para finalizar, Susana fez questão de ressaltar que sua trajetória sempre foi pautada no feminismo, que pressupõe feminilidade e inteligência e nunca violência e agressividade.
Que honra estar com elas. Obrigada Cantu e Orantes Assessoria!!
Até a próxima taça, Keli Bergamo